COISAS DE ARLINDO

COISAS DE ARLINDO
Falam-me demais que devo ser feliz. Quase me forçam, só faltam me jogar no mar da felicidade... E se me jogassem eu deixaria.

domingo, 12 de junho de 2011

A menina

Ela está ali olhando fixamente para o teto, olhos bem abertos, pupila dilatada, pele branca. Suas mãos já não expressam mais a sensibilidade de antes, seus cabelos assanhados como ali estavam acabavam com a imagem da bela menina que antes com seu amigo Sorriso encantava a todos. Meu Deus o que houve? Porque ela está olhando fixamente para o teto? Para aquele teto branco, sem vida, sem luz, sem sombra, sem nada. Para aquele pedaço de teto comum que não transparece nada... E eu aqui também a olhar para ela. Suas unhas estavam bem pintadas, era cor de rosa, daqueles bem clarinhos como a de uma pura criatura. Sua pele antes dali era como a de uma boneca, seus vestidos meigos cheios de bolinhas com fitinhas e laços deixavam sua imagem mais angelical. O que houve meu Deus? O que houve?
 Ela continua ali sentada e em seus ouvidos soa a voz leve da doce soprano que com tanto sentimento canta, dramatiza com a voz todo o amor contido em seu coração. Ah pequenina, levanta. Levanta vai e me mostra estes teus olhos claros, que ao bater nos meus me enche de paz. Pequenina! Pequenina! Acorda! 
Está com um dos braços pendurados com a mão naturalmente aberta e escuto aqueles pingos demorados, viscosos, que com tanta força caem no chão e se espalham com vontade. Aquele pingo de um líquido de cor escura que está iluminado pelos feixes de luz do sol que até então entram pela janela... Estes me fazem fixar também... Fixar naquele líquido que deixa ar de liberdade, de transformação, de amor. Encima da penteadeira um metal brilhoso, simples, comum que estava repleto pelo líquido. E chamo novamente: pequenina! Pequenina! E ela não acorda. Pequenina...
Dou-te um abraço e também fico repleto daquele líquido, me enxáguo todo daquele líquido, e choro desesperadamente, choro por ti, choro por mim e por saber que tu não olharás mais pra mim, que a último que tu olhaste foi aquele teto branco. Que o teu último suspiro foi para ele pequenina. Ah... Como eu te amo, como eu te venero minha bonequinha. Então fecho os teus grandes e lindos olhos e deixo as minhas lágrimas agora completar a minha despedida. Vai em paz ma belle e saiba que todo o meu pranto pertence a ti. Somente a ti.

(Arlindo Cardoso)

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